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Diário Mínimo

Umberto Eco

  • Edição Junho 2023
  • Colecção Obras de Umberto Eco
  • ISBN 978-989-785-219-0
  • Páginas 200
  • Capa Brochada/capa mole
  • Dimensões 23,00 x 15,50
€13,50 €12,15
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Uma edição que compila as melhores crónicas de Umberto Eco publicadas na revista Verri. O célebre semiólogo italiano revela-se neste divertido Diário Mínimo como um articulista esplêndido, um contador de anedotas, um interlocutor espirituoso e um amante do riso. Com perspicácia e erudição, oferece uma selecção de textos nos quais, recorrendo à ironia crua e aos pastiches, disseca com desassombro o mundo académico, as bizarrias do quotidiano, o labirinto da burocracia e até o design de certos objectos.

Nota à edição de 1975

«Estes textos, publicados em volume em 1963, intitularam‑se Diário Mínimo porque era esse o título da rubrica que a partir de 1959 eu encetara na revista Il Verri, registando certas observações, acerca de costumes e ridículos, inspiradas pela actualidade. Este tom diarístico foi‑se a pouco e pouco atenuando e os meus textos tornaram‑se realmente exercícios de falsificação literária, mantendo do projecto inicial apenas uma referência constante a factos ou polémicas actuais.

A primeira edição em livro conservara vários trechos que se poderiam ainda definir como observações de costumes, moralidades, desabafos e elzevires: todos eles correspondendo a passagens que nesta edição, passados quinze anos sobre a data da publicação inicial, decidi retirar, porque os factos a que se referiam se tinham tornado, entretanto, demasiado remotos. Assim, o título global da colectânea deve ser agora entendido como uma enésima falsificação e serve para designar quase exclusivamente pastiches e paródias a que juntei um ou outro texto, escrito mais tarde, no mesmo tom.

Alguns destes falsos ensaios tiveram a fortuna de agradar ao público e de serem adaptados em edições escolares (como aconteceu com o panfleto sobre Coração) ou de passarem a fazer parte de um reportório de citações obrigatórias, como a análise de Mike Bongiorno. Outros foram adaptados ao teatro, outros ainda serviram (segundo me têm dito) para ajudar estudiosos de diferentes disciplinas a olharem com a devida suspeita as coisas que actualmente se fazem do modo mais sério. Facto que muito me conforta, porque uma das primeiras e mais nobres funções das coisas pouco sérias é lançarem uma sombra de desconfiança sobre as coisas demasiado sérias — e é essa a função mais séria da paródia. Pelo que, se quando escrevia estes textos, o fazia com algum embaraço, como se fossem algo de não muito decoroso em relação às práticas culturais que eu próprio ia desenvolvendo noutros lugares, hoje sinto ‑me um pouco mais seguro: é preciso continuar a fazer algumas coisas destas (contanto que, naturalmente, não se tornem fins em si próprias).

Não me resta dizer mais nada senão que, entrando agora o livro numa colecção popular de grande difusão, poderá cair nas mãos de pessoas que não sejam capazes de reconhecer à primeira vista os modelos que inspiram as minhas paródias. Ora, certamente que não é bonito fazer ironia e depois explicar a toda a gente que se pretendia dizer o contrário, mas penso que a leitura destas paródias deve servir para fazer conhecer melhor os modelos em que elas se inspiram. Até porque nem sempre uma paródia se pratica a partir de um modelo negativamente considerado; muitas vezes parodiar um texto significa prestar ‑lhe ainda homenagem. Eis, por conseguinte, algumas rápidas indicações destinadas ao leitor carecido de chaves.

«Vozita» é claramente um exercício sobre Nabokov. «Esquisse d’un nouveau chat» aponta principalmente para Robbe‑Grillet, mas toma como modelos também outros mestres de nouveau roman. «My exagmination etc.» — que desde o título brinca com uma série de célebres comentários ao Finnegans Wake —imita quer o estilo dos new critics quer o de certo Eliot enquanto ensaísta, e também os métodos de alguma crítica simbólica que, por aqueles anos, florescia nas universidades americanas.

O modelo principal de ≪Indústria e repressão sexual numa sociedade padana≫ são os estudos antropológicos de Ruth Benedict e Margaret Mead, mas a seguir o ensaio utiliza as mãos‑cheias textos dos psiquiatras de tradição husserliana, e assim todas as citações entre aspas são autênticas e provem ou de Husserl ou de Binswanger (excepto um ou outro modesto retoque).

Necessita também de um mínimo de esclarecimentos ≪Onde iremos ter?≫, escrito num período em que, na esteira da crítica social de Adorno, se elaboravam entre nós várias descrições apocalípticas da sociedade de massa, em tom pessimista e aristocrático. Não cito os meus alvos, uma vez que se encontram já designados no texto, ainda que através da transposição dos seus nomes em caracteres alfabéticos do grego. O que me agrada neste divertissement e o facto de antecipar, no campo da forca cómica, muitos textos hoje escritos com intuitos sérios no âmbito do renascimento da cultura de direita.

É esta a felicidade da paródia: não deve nunca temer o exagero. Quando acerta no alvo não faz mais do que prefigurar algo que outros farão mais tarde sem riso — nem vergonha — com a mais firme e viril das seriedades.»

Umberto Eco