Pequenas Resistências, Ideias sobre Jornalismo, Utopias e Amor Público
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As árvores, além das melhorias que trazem ao clima da cidade, têm um efeito harmonizador na paisagem urbana: logo que estas chegam a uma rua a paisagem torna?se mais suave, mais estimulante. Por vezes as árvores lembram?nos memórias passadas, jardins desaparecidos, construções derrubadas.
As árvores crescem para todos, sem discriminarem a ninguém. Dão muito e pedem pouco, oferecem?nos saúde e beleza em troca apenas de um pouco de atenção e tornam a cidade mais habitável sem pedir mais que uns metros de passeio.
As árvores das cidades têm o direito de serem mais reconhecidas e mais amadas. Mas como amar o que não conhecemos? Ora, o homem ou a mulher comum reconhece as palmeiras, as oliveiras, os pinheiros… e pouco mais. E, ainda quanto a esses poucos exemplares, vê?os não poucas vezes como seres inanimados, não muito diferentes dos pedaços de madeira que esperam a fogueira ou o carro do lixo. Isto enquanto sabe desfiar os nomes dos jogadores de futebol ou dos astros do cinema.
Ora — e por muito respeito que todas essas pessoas nos mereçam — os homens poderiam viver sem futebol, sem cinema, sem artes, mesmo sem ciência, mas não sem árvores. São elas que nos dão «só» o ar que respiramos, para não falar nos numerosos alimentos que nos fornecem. Este livro é uma contribuição no sentido de dar a conhecer as árvores nas nossas cidades, tanto no Continente como nas Ilhas.
Tentámos apresentar as árvores como seres vivos que são, reagindo ao sol ou à chuva, com as suas preferências e antipatias, os seus amigos e os que não lhes querem tão bem; e mostrar a forma como as podemos distinguir, multiplicar, plantar e proteger. Se com isto tivermos salvo uma árvore, damo?nos por satisfeitos.
Dão muito, pedem pouco por Vasco Medeiros Rosa, Observador.
«Autor de Plantas do Algarve: ornamentais, cultivadas, espontâneas (2008), de Árvores e Grandes Arbustos de Macau (2017) e de outros livros, como Princípios da Arquitectura Paisagista e do Ordenamento do Território (2005), prefaciado por Gonçalo Ribeiro Telles, o agrónomo e arquitecto paisagista de 76 anos António Manuel de Paula Saraiva preparou com notável denodo este detalhadíssimo manual dirigido a todos aqueles — e serão sempre poucos — que acreditam na enorme vantagem, para a vida urbana, de um incremento muito exponencial de jardins e parques, praças e ruas arborizadas, fazendo uma clara e útil pedagogia de como cada um de nós pode «distinguir, multiplicar, plantar e proteger» — ou fazer proteger — as árvores na cidade. Trata-se da transmissão dum saber de experiências feito, acumulado no serviço de jardins da Câmara Municipal de Lisboa (1971-85) e depois no seu correspondente em Macau, duas realidades climáticas, físicas — e também culturais — bastante contrastáveis e por isso complementares.
A primeira parte do livro, ocupando 200 páginas, é dedicada a «Conceitos gerais» (é muito mais do que isso, como veremos), e a segunda consiste numa apresentação científica e prática das 241 «espécies mais usuais» no continente e ilhas atlânticas, em «fichas» de página inteira ilustrada e com uma barra de pictogramas no topo a indicar características essenciais das árvores adultas, e nalguns casos a localização de «exemplares notáveis», convidando ao garden tourism.
No fim, além dum breve glossário botânico, o autor elenca e descreve as árvores, arbustos e trepadeiras mais comuns nas diferentes regiões do nosso país, mas sem compartimentação estanque («plantas que no Sul só se encontram perto de linhas de água, como os freixos, encontram-se no Minho em encostas, precisamente porque o Minho é mais húmido», p. 21), e organiza um sortido de árvores de acordo com «situações limitativas» — espaço disponível, acidez e humidade dos solos, maior ou menor exposição ao vento e à chuva — a que importa atender. Há também nove páginas de útil bibliografia, em que, todavia, o importante A História Natural de Portugal em Domingos Vandelli de João Cabral (Colibri, 2018, 344 pp.) está ausente e isso nota-se bastante no que António P. Saraiva escreveu sobre essa figura e época.»
Texto disponível aqui.
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